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Semana 46: It Is Economy (Not ESG), Stupid. Sustentabilidade Financeira, Inovação Verde, Governança Corporativa, Desigualdade Econômica, Crise Climática.

Sustentabilidade Financeira, Inovação Verde, Governança Corporativa, Desigualdade Econômica, Crise Climática.


Prezados,

O conceito de ESG é falho — ele não funciona e não entrega os resultados esperados. É superficial, simplista e, paradoxalmente, excessivamente complexo. Não aborda as prioridades reais: lucros e valorização dos acionistas. É simplesmente descartável. Sempre foi e sempre será sobre as narrativas que contamos a nós mesmos e que outros nos contam.


Recentemente, li manchetes em grandes veículos de mídia ao redor do mundo associando ESG à era dos condenados por crimes e ao tecno-feudalismo. A cobertura é pessimista e alarmante. As manchetes são apresentadas como balas; os veículos parecem competir para ver quem pode destruir o ESG de forma mais brutal. Isso é não apenas triste, mas, obviamente, falso. Contudo, quanto maior a mentira, maior a probabilidade de as pessoas acreditarem, desde que ela seja repetida continuamente.


Os investimentos tradicionais no estilo Wall Street promovem poluição, degradação de sistemas naturais, corrupção, escravidão, desigualdade e emissões crescentes de CO₂ — e isso há muito tempo. Tudo isso é legitimado e enquadrado dentro de orientações fiduciárias e requisitos que o permitem.


O sistema financeiro segue apenas as regras definidas pelos reguladores, que são fortemente influenciados pelo lobby do setor financeiro. Não há moralidade codificada no "software" do sistema financeiro. Ele é uma máquina implacável — matematicamente precisa, fria na execução e brutal diante das fraquezas. Muitos a descreveriam como implacável.


Um documento interessante do Congresso dos EUA, que passou despercebido por muitos, lança luz sobre esse tema. Você pode acessá-lo aqui.


Em 2008, bancos ao redor do mundo foram resgatados com dinheiro dos contribuintes, em um movimento de estilo socialista. Poucos, ou nenhum, banqueiros foram presos pelos estragos causados que nos trouxeram aos desafios enfrentados hoje. Milhões, senão bilhões, de pessoas em todo o mundo foram e continuam sendo impactadas pela crise financeira desencadeada pela indústria financeira em 2008.


As classes trabalhadoras arcaram com a maior parte dos custos, pagando as contas dos banqueiros, como sempre. Isso aumentou a desigualdade, levando à polarização, ao racismo e ao nacionalismo, criando o ambiente perfeito para o crescimento do populismo que vemos globalmente. A crise financeira de 2008 abriu caminho para líderes como Putin, Bolsonaro, Trump, Orbán e inúmeros outros regimes autocráticos prosperarem.


Talvez isso não seja tão evidente para muitos, mas a ordem mundial como a conhecemos — juntamente com as instituições que a sustentam — está sendo gradualmente desmantelada. Novos mapas estão sendo desenhados e alianças sombrias estão sendo forjadas.


Os mesmos banqueiros, junto com muitos políticos que supervisionaram a crise de 2008, agora afirmam que a emergência climática não é tão perigosa — que está sob controle, precificada e mitigada. Estes são os mesmos indivíduos que, apesar das evidências científicas esmagadoras, ainda não acreditam verdadeiramente na gravidade da crise. E os poucos que acreditam são frequentemente desacreditados por "especialistas" da corrente dominante e impedidos de causar qualquer impacto significativo.


Os reguladores dos EUA, liderados pelo Federal Reserve, recusaram-se a apoiar um plano que teria visto o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia pressionar os credores a divulgarem seus riscos climáticos, segundo fontes familiarizadas com o assunto. Embora não seja impossível que os EUA revertam sua posição, o Comitê de Basileia já enfraqueceu significativamente a proposta para acomodar o Fed, segundo as fontes. Agora teme-se que o trabalho de incorporar considerações climáticas nos regulamentos bancários globais seja arquivado indefinidamente.


Não há indicação de que as ações do Fed estejam influenciadas pela possibilidade de um governo Trump. Na verdade, o presidente Jerome Powell reiterou a independência do Fed. No entanto, este desenvolvimento levanta preocupações sobre o papel da maior economia do mundo na definição da agenda climática global.


A posição dos EUA contrasta fortemente com a abordagem europeia. O Banco Central Europeu (BCE) alertou consistentemente os credores em sua jurisdição sobre multas caso falhem em atender às expectativas explícitas de gerenciamento de risco climático. Enquanto isso, nos EUA, Powell descreveu como um "grande erro" esperar que os reguladores bancários "liderem a luta contra as mudanças climáticas."


Os detalhes das discussões entre o Fed e outros membros do Comitê de Basileia — juntamente com as alterações na proposta de divulgação chamada Pilar 3 — baseiam-se em documentos revisados pela Bloomberg News e conversas com altos funcionários que pediram anonimato. A decisão dos EUA foi comunicada aos outros membros do Comitê de Basileia durante uma ligação em setembro por um representante do Fed. Embora tenha expressado apreço pelo trabalho realizado para criar um quadro de divulgação climática para bancos, os EUA declararam que não estavam prontos para apoiar o rascunho de compromisso.


O Comitê de Basileia, representando banqueiros centrais e reguladores financeiros de cerca de 30 países, provavelmente teria aprovado a proposta em setembro, não fosse a oposição dos EUA. Além do Fed, a representação dos EUA no comitê inclui o Escritório do Controlador da Moeda e a Corporação Federal de Seguro de Depósitos (FDIC).


O Legado da Crise Financeira de 2008


Muitos dos políticos associados à crise financeira e aos subsequentes resgates bancários enfrentaram repercussões eleitorais. Entre 2009 e 2010, partidos de centro-esquerda nos EUA, Reino Unido e Alemanha sofreram retrocessos. Em Berlim e Londres, novos governos de centro-direita assumiram o poder, focando em cortes orçamentários e redução de déficits — respostas ao aumento acentuado do desemprego e à queda nas receitas fiscais causadas pela crise.

Abaixo, alguns dados ilustrativos do impacto da crise nos EUA:


  • 8,8 milhões de empregos perdidos

  • Desemprego atingiu 10% em outubro de 2009

  • 8 milhões de execuções de hipotecas

  • $17 trilhões de riqueza doméstica evaporados

  • Queda de 40% nos preços médios de imóveis

  • S&P 500 caiu 38,5% em 2008

  • $7,4 trilhões em riqueza de ações perdidos de 2008 a 2009 (aproximadamente $66.200 por domicílio)

  • Contas de poupança e aposentadoria patrocinadas por empregadores caíram 25% ou mais em 2008

  • Taxas de inadimplência de hipotecas ajustáveis (ARMs) subiram para quase 30% em 2010


Esses dados ajudam a explicar o descontentamento persistente entre os eleitores e porque muitos se voltam para líderes populistas como símbolos de protesto.


Ioannis Ioannou sobre ESG e Mercados Financeiros


Meu amigo Ioannis Ioannou, professor associado de Estratégia e Empreendedorismo na London Business School, escreveu recentemente um artigo perspicaz abordando o desalinhamento entre mercados financeiros e prioridades ESG. Sua pesquisa foca na sustentabilidade corporativa e na integração estratégica de questões ESG por empresas e mercados de capitais. Abaixo, um trecho de seu artigo que explora os fundamentos do ESG e a dinâmica dos mercados financeiros:

Quando Donald Trump foi eleito, as ações de energia renovável despencaram. Investidores abandonaram o setor de energia verde, antecipando uma mudança política favorável aos combustíveis fósseis. Isso não foi apenas uma reação à mudança de governo; expôs uma falha mais profunda no sistema financeiro global. A fixação dos mercados em ganhos de curto prazo os cega para os limites ecológicos do planeta e as necessidades sociais, como fica evidente na forma como o capital é alocado sem considerar a sustentabilidade ambiental ou o bem-estar social.

O problema é sistêmico. Os investidores buscam lucros imediatos, aderindo à ilusão de que o crescimento infinito pode ser alcançado em um planeta finito, sem repercussões sociais. Essa mentalidade ignora tanto a estabilidade de longo prazo dos portfólios quanto a natureza limitada dos recursos naturais e humanos. Não se trata apenas de uma falha financeira — é uma negação da realidade. O conceito de limites planetários identifica limiares críticos — mudanças climáticas, perda de biodiversidade, acidificação dos oceanos — que devem ser respeitados para manter a habitabilidade da Terra. Paralelamente, limites sociais, como acesso a trabalho justo, renda equitativa e saúde comunitária, são igualmente cruciais para o progresso sustentável. Ainda assim, os fluxos de capital claramente ignoram esses limites, financiando indústrias que aceleram a degradação ambiental e agravam as desigualdades sociais.

A volatilidade das ações sustentáveis em resposta a mudanças políticas expõe esse problema sistêmico. Se ESG é lucrativo ou não, depende das estruturas e mecanismos de recompensa subjacentes aos mercados, que permanecem desalinhados com os limites ambientais e sociais. Esperar que iniciativas ESG prosperem nesse contexto é fundamentalmente equivocado. O sistema financeiro, e não essas empresas, precisa evoluir para que práticas genuinamente sustentáveis possam criar valor e estabilidade. Os mercados devem ser reestruturados para apoiar negócios que estejam alinhados com as realidades ambientais e sociais, em vez de pressioná-los a se conformarem com noções ultrapassadas de lucratividade que ignoram os impactos mais amplos.

Esse desalinhamento é evidente quando empresas comprometidas com princípios ESG são penalizadas em vez de recompensadas. Não se trata de gestos simbólicos; muitas dessas empresas estão repensando fundamentalmente suas operações para se alinhar a imperativos ambientais e sociais. Elas investem em fontes renováveis, desenvolvem produtos sustentáveis, adotam modelos circulares, aplicam práticas trabalhistas éticas e constroem cadeias de suprimentos justas. Em um mercado racional que reconhecesse as restrições do mundo real, essas empresas inovadoras deveriam ser altamente valorizadas.

A rentabilidade limitada de iniciativas ESG autênticas não indica uma falha no conceito de ESG em si, mas sim em um sistema que prioriza a exploração de curto prazo em detrimento da resiliência de longo prazo. Tal como opera atualmente, o sistema financeiro global não considera os contextos ambientais e sociais em que está inserido. Esse desalinhamento não apenas ameaça os esforços para enfrentar desafios globais, mas também introduz riscos sistêmicos à própria economia.


Atualização da COP

Países que resistem à transição para longe dos combustíveis fósseis deveriam ser impedidos de sediar futuras cúpulas da COP, segundo uma carta aberta assinada por 22 figuras notáveis, incluindo o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e a ex-chefe climática da ONU Christiana Figueres. O argumento reflete a frustração com a contínua influência do lobby de combustíveis fósseis, evidenciada pela presença de 1.773 lobistas desse setor na COP29, de acordo com o grupo de defesa Kick Big Polluters Out.


Enquanto isso, um relatório apoiado por governos como os de Barbados, França e Quênia propôs soluções fiscais inovadoras para financiar iniciativas climáticas. Tributações sobre bilionários, viajantes frequentes, mineradores de criptomoedas e fabricantes de plástico poderiam gerar centenas de bilhões de dólares anualmente, transformando potencialmente o financiamento climático global.


Impasse nas Negociações da COP29

As negociações na COP29 enfrentam grandes obstáculos. Um rascunho de acordo sobre metas financeiras globais para o clima aumentou de nove para 33 páginas, refletindo divisões profundas entre nações ricas e em desenvolvimento. Esse impasse ressalta uma tensão recorrente: quem deve arcar com os custos da ação climática?


Relatório do IHLEG: Ambicioso, mas Insuficiente

Independent High-Level Expert Group on Climate Finance (IHLEG), criado na COP26 e COP27, divulgou recentemente um relatório detalhando as enormes necessidades financeiras dos países em desenvolvimento. Liderado pelos economistas Amar Bhattacharya, Vera Songwe e Nicholas Stern, o documento estima que os países em desenvolvimento (excluindo a China) precisarão de US$ 2,4 trilhões anuais até 2030 para cumprir as metas do Acordo de Paris. Esse valor é mais de quatro vezes o financiamento climático atual de US$ 550 bilhões por ano.

Um ponto de discórdia significativo está nas propostas da UE e de outras nações desenvolvidas, que defendem uma meta climática global incluindo investimentos de todas as fontes de financiamento. Países em desenvolvimento se opõem, temendo que isso dilua a obrigação das nações ricas — estabelecida pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, de 1992 — de fornecer apoio financeiro.


O relatório do IHLEG, no entanto, instiga os países em desenvolvimento a ampliar o foco além da ajuda direta de nações ricas. Embora os países desenvolvidos sejam chamados a dobrar o financiamento bilateral para US$ 90 bilhões anuais e triplicar as contribuições multilaterais para US$ 260 bilhões até 2030, essas cifras ainda seriam insuficientes. O relatório sugere medidas adicionais, como redirecionamento de subsídios a combustíveis fósseis, precificação de carbono e uso de capital concessional, como os direitos especiais de saque do FMI. Mesmo assim, isso cobriria apenas uma fração dos US$ 2,4 trilhões necessários, com grande parte do ônus recaindo sobre esforços domésticos dos países em desenvolvimento.


A Persistente Desigualdade no Financiamento Climático

A promessa anterior das nações desenvolvidas de mobilizar US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático foi cumprida tardiamente em 2022. Isso incluiu US$ 41 bilhões em financiamento bilateral, US$ 50,6 bilhões por meio de instituições multilaterais e US$ 21,9 bilhões em investimentos do setor privado incentivados por iniciativas governamentais. Embora esses números pareçam substanciais, são insignificantes em comparação às necessidades descritas pelo IHLEG.


Os países em desenvolvimento enfrentam uma posição desafiadora. Embora precisem atrair financiamento internacional, também enfrentam pressão crescente para reformar seus sistemas domésticos a fim de gerar capital significativo. Isso inclui taxar indústrias intensivas em carbono, reformar subsídios e construir infraestrutura para atrair investimentos privados. Nações ricas, por sua vez, precisam não apenas cumprir suas obrigações financeiras, mas também ajudar na capacitação para que os países menos desenvolvidos utilizem os recursos de forma eficaz.


Um Alerta Sombrio: O Custo da Inação

As dinâmicas atuais na COP29 são um lembrete claro de como a cooperação global no financiamento climático permanece fragmentada. Para os países em desenvolvimento, a tarefa é dupla: assegurar compromissos de nações ricas enquanto garantem que seus próprios sistemas possam mobilizar fundos. Para as nações desenvolvidas, o fracasso em fornecer suporte adequado ameaça exacerbar desigualdades globais e minar a confiança nos processos multilaterais.

O Renascimento da Energia Nuclear nos EUA

Enquanto as negociações climáticas globais enfrentam dificuldades, iniciativas do setor privado apontam caminhos alternativos. A Constellation Energy Corp. planeja investir US$ 1,6 bilhão para reativar o reator nuclear Three Mile Island, na Pensilvânia, impulsionada pela crescente demanda por eletricidade de IA e data centers. A Microsoft firmou um contrato de duas décadas para adquirir toda a produção do reator, marcando sua primeira instalação nuclear dedicada à energia livre de carbono.

Previsto para entrar em operação em 2028, o projeto reflete o interesse renovado na energia nuclear como fonte contínua de energia limpa. Embora mais de uma dúzia de reatores nos EUA tenham sido desativados na última década devido à concorrência com gás natural e renováveis, as crescentes demandas energéticas reviveram o interesse por reativar plantas desativadas.

A decisão da Constellation de financiar o projeto sem subsídios estaduais ou federais contrasta com outras iniciativas, como a proposta de US$ 1,8 bilhão da Holtec International em Michigan. O CEO Joe Dominguez destacou que o ritmo lento das aprovações governamentais exige ações independentes. “Não há cenário futuro para este país que não dependa desses ativos nucleares”, afirmou.


Tempo de Liderança Corajosa

A reunião do G20 no Brasil representa um momento crucial. Os líderes devem reduzir a lacuna entre retórica e ação, comprometendo-se com o financiamento climático transformador necessário para evitar catástrofes. As decisões tomadas no Rio de Janeiro e em Baku moldarão o rumo da política climática global nos próximos anos. O alerta da ONU é claro: não há mais tempo a perder. Ação climática não é apenas um imperativo moral; é uma necessidade econômica.


Have a great narrative week!

Sasja Beslik


Sustentabilidade Financeira, Inovação Verde, Governança Corporativa, Desigualdade Econômica, Crise Climática.

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